sexta-feira, 27 de agosto de 2010

presente do acaso

Eu dou minha mão e quando ele segura eu escorrego pra não ficar. E vamos assim, escorregando um do outro pra não querer ficar. Dormimos abraçados, mas eu fiquei de costas e não fiz perguntas. Tudo pra não guardar na cabeça a imagem daquilo que é tão novo e bom. Daquilo que é tão velho de tão esperado. E ele me pergunta sobre minha vida, sobre meus amores e meus planos. E eu faço o papel da mulher misteriosa só pra não saber da sua vida. Eu o preservo com meu mistério. Eu fujo pra nos preservar. Porque saber dele é saber dele sem mim, e isso dói. Eu não posso ser dele, porque isso significa brigar um dia, dizer e ouvir coisas rudes e até mesmo nos separar. Eu quero esse pouquinho, esses momentos, essas fugas, a impessoalidade dos hotéis. Eu prefiro isso. A cama estranha, o lençol sem estampa, as paredes sem fotografias, os beijos e abraços rápidos de quem não quer se prender. Mesmo que o bem querer escape em sua teimosia terna. E eu não pergunto o que ele quer da vida, o que ele quer de mim, se ele me quer pra sempre na sua vida. Eu não pergunto nada. No fundo tenho medo de que ele desista antes de mim, ou queira mais do que foi combinado, insconscientemente em nossos encontros. Como um presente do acaso, perfeito demais pra desembrulhar de vez.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

"Haverá paraíso sem perder o juízo?"
Arnaldo Antunes


Ela fica ali, quietinha, lendo poemas, sonhando com flores e borboletas. Aí ele aparece. E rouba sua paz e tranquilidade. E rouba seus segredos. A mocinha aérea se transforma na mais terrena das criaturas. Na mais sensual só em buscar o que guardou para ele. E os tons pastéis dão lugar ao vermelho-sangue. Cores vivas, cheiro de mel e pimenta fresca, alma de mulher. E ele sabe que a perturba. Sabe e provoca. Provoca pra ver onde vai dar. Só pra ver ela sair do seu lugar e mergulhar no turbilhão que é o cantinho deles. Os dois tão iguais na química e na beleza de viver assim. Sem hesitação, feitos de desejo e afeto.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Se inteligência é afrodisíaco, imagine o que faz a gentileza.
A inteligência arrogante só afasta, enquanto a sutil...
A gentileza é o êxtase da inteligência.